Qual o significado de política?

A política, em sentido amplo, é o conjunto de práticas e relações que envolvem a disputa, o exercício e a limitação do poder, bem como a organização da sociedade em busca de objetivos coletivos. No imaginário democrático contemporâneo, ela é frequentemente apresentada como um espaço neutro de deliberação, onde diferentes interesses buscam consensos em prol do bem comum. Contudo, sob uma perspectiva marxista, é preciso ir além dessa aparência para compreender que a política é inseparável das relações de produção e da luta de classes que estruturam a sociedade.

Desde Marx, compreende-se que a história das sociedades é a história das lutas de classes. A política, nesse sentido, é um campo de batalha onde as classes dominantes buscam manter e reproduzir seu domínio, enquanto as classes subalternas tentam resistir, conquistar direitos e, eventualmente, transformar as estruturas vigentes. Trata-se, portanto, de um mecanismo de imposição de uma forma de sociedade à maioria, moldado pelos interesses da classe que controla os meios de produção e, por consequência, as instituições do Estado.

O Estado moderno exerce a função de preservar as condições de reprodução do capital. Isso inclui administrar as contradições internas do sistema, evitando que elas atinjam um ponto de ruptura que ameace a própria ordem. Nesse aspecto, o Estado atua como um “termostato” das contradições: promove ajustes econômicos e sociais que impedem a eclosão de crises irreversíveis, ao mesmo tempo que garante a continuidade da exploração.


No Livro III de O Capital, Marx aponta que o desenvolvimento das forças produtivas, incluindo o avanço do capital fixo e das tecnologias, tende a reduzir a necessidade de trabalho humano. Essa tendência, se levada ao extremo, minaria a própria base da produção capitalista, que depende da extração de mais-valor do trabalho vivo. A política, nesse contexto, funciona também como um instrumento para administrar esse dilema: criar mecanismos de contenção social e de redistribuição mínima que evitem a desagregação, mas sem romper com a lógica da acumulação.

Por outro lado, a política não é apenas repressão ou conservação da ordem. Ela também abre espaços, muitas vezes limitados e instáveis, para a organização popular, a construção de alternativas e a disputa de projetos societários. É nesse terreno que emergem movimentos sociais, sindicatos e partidos que se colocam contra a hegemonia do capital, buscando reorganizar a sociedade a partir de princípios de igualdade e justiça social.

Assim, a política pode ser entendida, de forma dialética, como:

  1. Instrumento de dominação, que organiza a sociedade segundo os interesses da classe dominante e preserva as condições de exploração;

  2. Mecanismo de regulação, que administra as contradições do capitalismo para evitar sua implosão;

  3. Espaço de disputa, no qual as classes subalternas podem articular resistências e propor transformações.

Compreender o significado da política a partir dessa perspectiva implica reconhecer que ela não é um campo neutro, mas um reflexo e um prolongamento da luta de classes. Mais ainda: implica entender que o desenvolvimento das forças produtivas, sob a lógica do capital, aprofunda as contradições sociais, e que a superação dessas contradições exige não apenas a conquista de espaços dentro da política institucional, mas a transformação radical das relações de produção.

Referências:
Aksoy, H. (2015). Invigorating democracy in turkey: the agency of organized islamist women. Politics & Gender, 11(1), 146-170. https://doi.org/10.1017/s1743923x1500001x
Bolzonar, F. (2023). Conservative catholicism versus social catholicism? contrasting patterns in the political engagement of highly religious young catholics in france and italy. Sociology Compass, 17(7). https://doi.org/10.1111/soc4.13092
Cole, W. and Perrier, G. (2019). Political equality for women and the poor: assessing the effects and limits of world society, 1975–2010. International Journal of Comparative Sociology, 60(3), 140-172. https://doi.org/10.1177/0020715219831422
Cornwall, A. and Goetz, A. (2005). Democratizing democracy: feminist perspectives. Democratization, 12(5), 783-800. https://doi.org/10.1080/13510340500322181
FERREIRA, Adriano. Política: liberdade coletiva x controle do Estado. In: FERREIRA, Adriano. Estado, Política e Direito. São Paulo: A A Ferreira, 2023.
 Freedman, A. (2009). Political viability, contestation and power: islam and politics in indonesia and malaysia. Politics and Religion, 2(1), 100-127. https://doi.org/10.1017/s1755048309000054
Ganesan, N. (2017). Appraising myanmar's democratic transition and evolving challenges. Japanese Journal of Political Science, 18(1), 196-215. https://doi.org/10.1017/s1468109916000372
Gleiss, M. and Sæther, E. (2017). Approaches to civil society in authoritarian states: the case of china. Sociology Compass, 11(12). https://doi.org/10.1111/soc4.12542
Lee, D. and Lee, J. (2008). Democratic consolidation beyond political crisis: an experience of korea. Journal of Contemporary Eastern Asia, 7(2), 1-16. https://doi.org/10.17477/jcea.2008.7.2.001
Mat, F., Chiodi, L., & Schmidtke, O. (2024). Europeanization as pragmatic politics: italy’s civil society actors operating in the face of right-wing populism. Social Sciences, 13(4), 205. https://doi.org/10.3390/socsci13040205
Mexhuani, B. and Rrahmani, F. (2017). The relationship between political parties and civil society. Journal of Political Sciences & Public Affairs, 05(04). https://doi.org/10.4172/2332-0761.1000295
Okura, S. and Kaigo, M. (2016). Who leads advocacy through social media in japan? evidence from the “tsukuba civic activities cyber-square” facebook page. Information, 7(4), 66. https://doi.org/10.3390/info7040066
Polat, R. and Çağlı, E. (2014). New directions for women's political development in turkey: exploring the implications of the internet for ka-der. Information Polity, 19(3,4), 179-194. https://doi.org/10.3233/ip-140343
Robin, C., Kosakowsky, L., Keller, A., & Meierhoff, J. (2014). Leaders, farmers, and crafters: the relationship between leading households and households across the chan community. Ancient Mesoamerica, 25(2), 371-387. https://doi.org/10.1017/s0956536114000315
Roggeband, C. and Krizsán, A. (2021). The selective closure of civic space. Global Policy, 12(S5), 23-33. https://doi.org/10.1111/1758-5899.12973
Stefes, C. and Paturyan, Y. (2021). After the revolution: state, civil society, and democratization in armenia and georgia. Frontiers in Political Science, 3. https://doi.org/10.3389/fpos.2021.719478
Uhlin, A. (2009). Which characteristics of civil society organizations support what aspects of democracy? evidence from post-communist latvia. International Political Science Review, 30(3), 271-295. https://doi.org/10.1177/0192512109105639
Wampler, B. (2022). Developing political strategies across a new democratic and state architecture. Latin American Research Review, 53(4), 708-725. https://doi.org/10.25222/larr.356
Zhuang, H., Zinda, J., & Lassoie, J. (2022). “crouching tiger, hidden power”: a 25-year strategic advocacy voyage of an environmental ngo in china. The Journal of Environment & Development, 31(4), 331-351. https://doi.org/10.1177/10704965221121743

Comentários