Numa sociedade dividida em duas bolhas eleitorais, ganha a eleição quem produzir o melhor discurso em um duplo sentido:
- Desunir a outra bolha;
- Unir ou, ao menos, não desunir sua própria bolha.
Nesse sentido, a estratégia da bolha tradicionalista foi perfeitamente executada em nosso primeiro turno. Conseguiu atingir alvos certeiros e produziu ou amplificou falas internas da bolha progressista contrárias ao voto útil.
Vejam bem: a bolha tradicionalista poderia ter produzido, inicialmente, um discurso contrário ao voto útil entre seus membros. Não o fez.
Caso o discurso contrário ao voto útil surgisse a partir de pessoas da bolha tradicionalista, geraria uma reação de desconfiança e de seu fortalecimento na bolha progressista. Não funcionaria.
A partir do momento em que tal discurso foi habilmente implementado na boca de pessoas da bolha progressista, conseguiu dividi-la e inviabilizar a vitória lulista.
Por outro lado, quanto mais a bolha esquerdista se via dividida nesse quesito, mais seu aparato oficial reforçava o discurso do voto útil, de modo espalhafatoso, sem calibrar os destinatários da comunicação.
Com isso, contraditoriamente, ao tentar silenciar os críticos internos ao voto útil, a bolha progressista causou uma dupla reação:
- Reforçou a fala de algumas dessas figuras, como Ciro e Simone, ainda que tenha mudado a opinião de outros menos importantes para o processo eleitoral;
- Gerou uma reação em cadeia na bolha tradicionalista, quase em nível privado, não detectada pela mídia da bolha progressista, pelo voto útil em Bolsonaro e seus candidatos.
A reação tradicionalista foi pontual e certeira, "viral", levando as eleições ao segundo turno e elegendo vários de seus candidatos.
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