A lógica bolsonarista é plantar a dúvida: o primeiro pronunciamento presidencial após a eleição

Em seu primeiro pronunciamento após o resultado da eleição, o Presidente Bolsonaro seguiu à risca a estratégia de uma comunicação voltada à sociedade dividia em duas bolhas: plantar mais dúvidas do que certezas.

Afirma que os movimentos populares atuais derivam de "indignação e sentimento de injustiça de como se deu o processo eleitoral". Não explica quais teriam sido as razões para esse sentimento, dando a entender que seriam legítimas.

Depois, afirma que esses protestos devem ser pacíficos e não adotar os métodos "da esquerda", ou seja, deveriam respeitar outros direitos, sobretudo o de "ir e vir".

Destaca a representação conquistada pela Direita no Congresso, lembrando seus ideais fascistas: "Deus, Pátria, Família e Liberdade".

Afirma ser pela "ordem e pelo progresso", superando as adversidades causadas pelo "sistema", pela pandemia e por uma Guerra.


Menciona ser rotulado de "antidemocrático", mas sempre jogar "dentro das quatro linhas da Constituição", nunca falando em censurar a mídia ou as redes sociais.

Diz que cumprirá todos os mandamentos da Constituição, lembrando que defende as liberdades, a honestidade e as cores da bandeira. Encerra aqui sua fala.

Trata-se de um discurso exemplar quanto aos mecanismos contemporâneos de convencimento "pelo aprendizado" dos seguidores de redes sociais: conciso, direto e repleto de duplos sentidos, propiciando discussão e muitas vias de interpretação.

Vejamos:

  • Os protestos contra a ordem democrática são justificados pela liberdade constitucional, devendo ser pacíficos;
  • A Direita que conquistou postos eletivos é saudada com o ideal fascista;
  • Afirma ter superado adversidades mesmo contra o "sistema" e nunca ter pensado em censurá-lo (sem dizer que não teria poder para tanto);
  • Por fim, afirma que cumprirá todos os mandamentos da Constituição, sem especificar quais e nem qual a interpretação deles (lembrando que, com base na Constituição, justifica a intervenção militar).

A partir das "pistas" deixadas por sua fala, Bolsonaro espera que sua bolha construa uma versão bélica de seu discurso.

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