O que vai acontecer com Bolsonaro?

 O que vai acontecer, politicamente falando, com Bolsonaro quando deixar a Presidência?

Antes de trazermos algumas hipóteses, convém entender o que pode acontecer com a "bolha tradicionalista" formada em torno de sua atuação como Presidente e, depois, como candidato.


Analisando-se os resultados das eleições parlamentares e para os governos estaduais, partidos ligados ao movimento evangélico, ao centrão e ao agronegócio conquistaram posições importantes. A tendência é que não apoiem uma oposição bolsonarista, aderindo ao governo ou a outros nomes.

Avançando nas possibilidades, para desenharmos o pior cenário para Bolsonaro, os Lavajatistas, com ambições próprias, buscam novamente um caminho isolado e os Militares (sobretudo da ativa), dado o apoio das potências mundiais ao novo governo, silenciam.


Restará, assim, a Bolsonaro, dois grupos que sempre foram considerados "raízes":
  1. Grupo heterogêneo de pessoas com personalidade autoritária, com frustrações diversas e com armas nas mãos; 
  2. Grupo de simpatizantes ligados à direita global e a movimentos tradicionalistas, geneticamente bolsonaristas (na versão que emerge a partir de 2016).
Nesse sentido, Bolsonaro e aqueles mais próximos a ele continuariam liderando um partido digital, que se estrutura em redes sociais de propriedade de empresas privadas globais.


Qual o tamanho dessa liderança (em termos populacionais) e qual seu poder?

Muito dessa resposta virá da análise dos resultados das eleições norteamericanas que ocorrem agora em novembro. Lá, o cenário é muito parecido com cá: Trump perdeu por pouco as eleições presidenciais e continuou bastante influente em seu partido digital.

Podemos, de qualquer modo, especular que 20 a 30% da população brasileira continue cegamente fiel a Bolsonaro. Trata-se de um contingente considerável, capaz de fazer dele uma influência política em qualquer eleição e uma ameaça à democracia.

Em 2023, portanto, Bolsonaro começa, mesmo nesse pior cenário para ele, com um poder bastante elevado.

A tendência é que utilize seu partido digital para mobilizar constantemente seus seguidores. Para tanto, recorrerá a técnicas de marketing político, plantando dúvidas que somente viram certeza após uma reflexão dos correligionários.

E essas dúvidas levarão à constatação de que existem inimigos do verdadeiro povo brasileiro (bolsonarista), os quais precisam ser combatidos de qualquer maneira.

Quão bem sucedido será Bolsonaro?

O êxito de um partido digital depende da "boa vontade" das empresas privadas globais cujos algoritmos impulsionam postagens com conteúdo antidemocrático, mentiroso ou odioso.

Quando o partido digital é pequeno, com poucos seguidores, depende de um investimento inicial para crescer. Depois de um certo ponto, basta entender o algoritmo e o crescimento torna-se orgânico.

No caso do Bolsonarismo, pode ser que seu partido digital já tenha atingido o patamar do orgânico, tornando-se razoavelmente "barato" de operar.

Caso isso tenha ocorrido, o sucesso de Bolsonaro estará ligado apenas ao compromisso das citadas empresas privadas com a legislação brasileira: se elas derem espaço à máquina bolsonarista, ela continuará crescendo.

Bolsonaro será preso?

Esta questão está intimamente ligada às anteriores. Inegavelmente há razões jurídicas para Bolsonaro ser preso ou tornar-se inelegível. Mas, o direito nunca anda desconectado da política.

Por mais que o STF e o TSE tenham mostrado muita força, coibindo atos antidemocráticos, essa força nunca foi maior do que podia ter sido. Há uma linha entre o silenciamento promovido pelas instâncias jurídicas e o indesejável efeito oposto, de amplificar as agitações sociais.

Caso Bolsonaro seja bem sucedido em 2023 e fortaleça ainda mais sua bolha, não haverá condições sociais para sua prisão ou para ser considerado inelegível. É com isso que ele conta.

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